15 Out Degenerescência macular da idade, a doença visual desconhecida que afeta 40 mil pessoas por ano
Por: António Campos, médico oftalmologista
A propósito do Dia Mundial da Visão, celebrado no passado dia 10 de outubro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para o facto de 80% das causas de deficiência visual serem evitáveis ou poderem ser tratadas mediante métodos de prevenção adequados. Dado o envelhecimento da população, uma das doenças a ter em conta é a degenerescência macular da idade (DMI), apontada como a causa mais comum de perda de visão irreversível em pessoas acima dos 60 anos.
À conversa com o Vital Health, António Campos, médico oftalmologista do Centro Hospitalar de Leiria, definiu a degenerescência macular da idade (DMI) como uma doença de envelhecimento da retina, caracterizada pela acumulação de produtos metabólicos, que se traduz na perda de visão central. Deste modo, os doentes “mantêm sempre uma visão periférica, mas no centro não vêem nada, portanto acabam por desenvolver uma cegueira legal”, explica.
A DMI desenvolve-se em diferentes fases, sendo o maior fator de risco a idade. Ainda assim, os desequilíbrios dietéticos, o fator familiar e o tabaco são também fatores a ter em conta. A fase precoce pode atingir até 13% das pessoas com mais de 70 anos, caraterizando-se por um período assintomático. Apenas a ida ao médico permite verificar a existência de lesões oculares, multiformes e amareladas, que aparecem no fundo do olho. Segue-se uma fase intermédia, na qual os sintomas se apresentam, em que as lesões aumentam de tamanho, número e complexidade. Por fim, há uma fase avançada sintomática em que se desenvolve perda ou distorção da visão, “em que as caras das pessoas aparecem gargólicas, distorcidas, e as linhas verticais e horizontais encurvam”, revela o médico oftalmologista.
“Há uma maneira muito fácil do doente perceber se tem um problema, que é entregar-lhe uma grelha, como as dos cadernos de matemática. Se vir essas linhas tortas, significa que tem um problema sério. É um teste que qualquer pessoa pode fazer e que mostra se têm uma forma já sintomática”, afirma António Campos. Nestes casos, é aconselhado ir ao médico imediatamente, pois se a doença não for tratada, “a cada duas semanas as pessoas perdem uma linha de letras numa escala de acuidade visual, que poderão nunca mais recuperarar”, alerta.
Pessoas com mais de 55 anos e com familiares que comprovadamente sofreram ou sofrem da doença e estão em tratamento, devem ir ao oftalmologista uma vez por ano, aconselha o médico. Quando há lesões, podem realizar uma retinografia, e repetir as fotografias da retina de forma seriada, de modo a vigiar a sua evolução.
Ainda que a doença não tenha cura e não exista forma de a deter, desde 2006 que estão em vigor diversos tratamentos. Uma forma de prevenção passa pela toma diária de suplementos dietéticos, que, à necessidade de serem tomados durante muito tempo, ao preço cumulativo elevado e à eficácia discutível, são pouco atrativos para os doentes, segundo António Campos. Contudo, quando as formas da doença são sintomáticas, são tratadas através de injeções intra-oculares.
De acordo com o médico, “devemos ter cerca de mil novos casos por ano de formas avançadas da doença para tratar ou já sem tratamento, se tivermos protelado o diagnóstico ou o tratamento. No que toca a prevalência da doença com indicação para tratamento, como um todo, temos cerca de 7 mil casos. Será razoável pensar que devemos andar à volta dos 40 mil indivíduos com a doença, e cerca de 7 a 10 mil necessitarão de tratamento. A relação entre os doentes em tratamento e aqueles para os quais a janela de tratamento passou, tendo desenvolvido perda irreversível de visão, variará entre 1:1 ou 1:4, dependendo da melhor ou pior estratégia de tratamento de cada país”, conclui.
Para António Campos, a incidência da DMI vai aumentar, não porque a sua ocorrência geral na Europa esteja a aumentar, mas pelo envelhecimento da população e pelo sub-diagnóstico devido ao desconhecimento da doença. “Muitos portugueses não devem saber que possuem a doença, visto não haver ainda uma perceção nas pessoas do perigo desta doença como há da diabetes por exemplo, nem há muitas associações de doentes portadores da doença, como há também para a diabetes”. Deste modo, à medida que o conhecimento e que o envolvimento das pessoas aumente, também a sua incidência conhecida aumentará, sugere o oftalmologista.