05 Mar Síndrome de Olho Seco na era Covid
POR REVISTA BUSINESS PORTUGAL · 10 NOVEMBRO, 2020
Um filme lacrimal estável é fundamental para uma boa visão. Na Síndrome de Olho Seco, o filme lacrimal perde a capacidade normal de lubrificação, o que condiciona inflamação da superfície ocular, com baixa da visão, sensação de secura e dor ocular.
Existem duas categorias de Olho Seco: por deficiência aquosa (diminuição da função da glândula lacrimal) e evaporativa (alteração da função das glândulas Meibomius produtoras de lípidos), que é muito mais comum. O Olho Seco é mais frequente no sexo feminino e aumenta com a idade, nos portadores de lentes de contacto e com o uso excessivo de plataformas digitais.
Os sintomas oculares, incluindo Olho Seco, são comuns entre os doentes COVID-19 e podem surgir antes dos sintomas respiratórios. Algumas medidas para controlar o surto são prejudiciais para a superfície ocular, com muitas pessoas saudáveis a mostrarem sintomas de desconforto ocular, o que exigiu o uso de lágrimas artificiais.
São apontadas duas grandes causas para o incremento do Olho Seco na era COVID: a má utilização das máscaras faciais e o aumento do uso das plataformas digitais. O posicionamento incorreto da máscara pode difundir ar ao redor dos olhos, levando a uma rápida evaporação das lágrimas. Até ao inicio da pandemia, 75% das nossas atividades diárias envolviam o computador. Com o teletrabalho esta atividade aumentou muito. Se a Síndrome Visual do Computador (SVC) já era um problema de saúde pública emergente, epidémico e global, com uma prevalência de 60-90% nos utilizadores de computador, acreditamos que à data de hoje este número disparou.
A SVC ocorre quando uma plataforma digital é utilizada mais de 3h diárias, associando alterações visuais a problemas ergonómicos e stresse psicossocial. Crianças, idosos e mulheres são mais vulneráveis. As crianças porque se posicionam inadequadamente, não controlam o uso dos dispositivos digitais e não ligam aos sintomas. Idosos, mulheres após a
menopausa e portadores de lentes de contacto apresentam má lubrificação da superfície ocular e olho seco.
Os sintomas da SVC são fadiga ocular, olhos vermelhos e irritados, fotofobia acentuada, cefaleias, visão dupla e enevoada, halos luminosos e secura ocular. A estes associam-se os sintomas músculo-esqueléticos secundários à posição inadequada no trabalho: dores cervicais, lombares e síndrome do túnel cárpico.
Os sintomas oculares podem ser aliviados com repouso periódico e posicionamento adequado do monitor. De 20 em 20 minutos, aconselha-se desviar o olhar do ecrã, durante 20 segundos, fixando um alvo a cerca de 6 metros. O monitor deve estar 15 a 20 graus abaixo do nível dos olhos e a cerca de 60 cm. Os materiais para leitura deverão estar acima do teclado e debaixo ou ao lado do monitor, de forma a não ser necessário movimentar a cabeça para os fixar. A posição do monitor deve evitar o brilho, em particular da iluminação superior ou de janelas. O brilho deve corresponder à luz circundante: se necessário, deve utilizar-se um filtro de brilho à frente do monitor. O contraste e o tamanho do texto também
são importantes. A cadeira deve ser acolchoada, em conformidade com o corpo, e ajustada para que os pés descansem no chão e os pulsos sobre a secretária ou nos braços da cadeira.
De uma forma genérica, o tratamento do Olho Seco passa muitas vezes pela mudança do ambiente de trabalho, evitando o tabaco, o fumo, o vento ou ambientes muito secos e com altas velocidades do ar (ventiladores, aquecedores de automóveis, ar condicionado). É essencial o uso de lágrimas artificiais sem conservantes.
No tratamento podemos associar a oclusão dos pontos lacrimais, administração de antiinflamatórios, como corticoides e ciclosporina em colírio ou tetraciclinas orais e usar lentes de contacto terapêuticas. A higiene palpebral é um dos pilares no tratamento do Olho Seco evaporativo. Compressas quentes são calmantes e podem liquefazer as secreções meibomianas solidificadas. A terapia com luz intensa pulsada pode ser necessária e ensaios clínicos sugerem suplementos de ácidos gordos (ómega-3 e ómega-6) para melhorar os sintomas.
É fundamental a observação pelo Oftalmologista, que pode diagnosticar e tratar desordens como conjuntivite alérgica, olho seco, distríquiase, blefarite, queratite de exposição, pestanejo inadequado, má posição das pálpebras e o uso de medicamentos que agravam a situação. Os defeitos refrativos devem ser tratados e, se necessário, devem prescrever-se óculos para o computador, para evitar o esforço ocular.
A SVC diminui significativamente a qualidade de vida, uma vez que a saúde visual é critica na manutenção da eficiência no trabalho. Cuide das condições de trabalho no computador, faça pausas para descanso.
Use adequadamente a máscara facial.
Maria João Quadrado, MD, PhD
Deputy Director Faculty Medicine – Coimbra University
Head Coimbra Eye Bank and Cornea Department
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra