11 Dez Estudos revelam que milhões de pessoas vivem com deficiência visual ou cegueira evitável
Dois estudos demonstraram que mais de mil milhões de pessoas vivem com deficiência visual e cegueira evitável por não possuírem acesso a serviços de cuidados para a saúde da visão atempados e devidamente planeados.
O grupo internacional de peritos sobre a perda de visão, Vision Loss Expert Group (VLEG) e do Instituto de Avaliação e Métricas em Saúde da Universidade de Washington, que conta com dois investigadores optometristas portugueses, publicou na The Lancet Global Health dois estudos centrais sobre o peso global das causas e prevalência da deficiência visual. Os estudos, “Causes of blindness and vision impairment in 2020 and trends over 30 years, and prevalence of avoidable blindness in relation to VISION 2020: the Right to Sight: an analysis for the Global Burden of Disease Study” e “Trends in prevalence of blindness and distance and near vision impairment over 30 years: an analysis for the Global Burden of Disease Study” analisam com profundidade, dimensão e detalhe, o peso e relevância das diferentes causas de deficiência visual e cegueira no mundo, incluindo Portugal.
Os resultados foram comparados com o Plano de Ação Global Acesso Universal aos Cuidados para a Saúde da Visão da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2013, que tinha como meta reduzir a deficiência visual e cegueira evitável em 25% até 2020. Não só se verifica que esse objetivo não foi atingido, como se destaca também que este número irá aumentar significativamente no futuro, advertindo que a cegueira e a deficiência visual moderada ou severa no mundo deverão duplicar até 2050.
O autor principal Rupert Bourne, professor de Oftalmologia na Universidade Anglia Ruskin (ARU) e no Hospital da Universidade de Cambridge, afirmou que “os resultados deste estudo mostram claramente que os esforços dos serviços de cuidados para a saúde da visão no mundo não conseguiram acompanhar o ritmo do envelhecimento e crescimento da população, e não conseguiram atingir as metas estabelecidas pela OMS. Embora a prevalência da cegueira tenha diminuído, o número de casos aumentou de facto”. “Se isto continuar, os atuais sistemas de saúde continuarão a responder de forma insuficiente e não conseguirão providenciar às pessoas soluções relativamente simples para a sua perda de visão. O efeito da COVID-19 é suscetível de exacerbar esta questão, tendo a investigação já mostrado atrasos e uma acumulação crescente de pessoas que necessitam de cuidados para a saúde da visão. É absolutamente vital que todas as nações tenham uma estratégia robusta de saúde pública para lidar com a deficiência visual e cegueira evitável, que custa aos serviços de saúde milhares de milhões de euros todos os anos”, concluiu.
Jost Jonas, professor na Universidade de Heidelberg, reforçou que “com uma população envelhecida e em crescimento, as deficiências visuais a nível global têm de ser uma prioridade urgente em termos de cuidados de saúde. O método mais fácil, mais seguro e mais económico para melhorar a situação é disponibilizar cuidados e óculos adequados para corrigir os erros refrativos”.
Vera Carneiro e Raúl Alberto de Sousa, optometristas e colaboradores do IHME/Global Burden Disease, enfatizam que o erro refrativo não corrigido, uma condição facilmente tratada com óculos ou lentes de contacto, contribui para a deficiência visual moderada ou severa estimada em 86 milhões de pessoas em todo o mundo.
Os investigadores demonstram que a principal causa de cegueira é a catarata, representando cerca de 45% dos 33,6 milhões de casos de cegueira global (15 milhões de pessoas afetadas), causando também deficiência visual severa em 78 milhões de pessoas. Outras causas significativas, mas menos fáceis de tratar, de deficiência visual e cegueira incluem o glaucoma, a retinopatia diabética e a degeneração macular relacionada com a idade.
Cerca de 5 milhões de portugueses sofrem de erro refrativo e, apesar disso, o Estado Português ainda não implementou as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre a integração e planeamento da força de trabalho dos cuidados para a saúde da visão desde os cuidados primários aos cuidados hospitalares e de reabilitação. Estas recomendações foram recentemente reforçadas pela OMS para o rastreio da retinopatia diabética no dia 14 de novembro, onde mais uma vez se reforça o papel que os optometristas devem desempenhar na prestação de cuidados primários para a saúde da visão.
Pode consultar os artigos completos na Lancet Global Health.